sábado, 11 de julho de 2009

A mendicância no servir

Foto tirada do Google

Ao ler a Encíclica do Papa João Paulo II “Dives in Misericórdia” (sobre a Misericórdia Divina) no seu Capítulo VII – A Misericórdia de Deus na Missão da Igreja, recordei as palavras de um Padre que participou num encontro onde estive presente.

O tema desse encontro era o “Serviço” a dada altura na sua intervenção propôs-nos que nos questionássemos verdadeiramente porque servimos, deu-nos várias opções: porque somos bonzinhos; porque somos melhores do que os outros; porque queremos ser enaltecidos; alcançar um certo estatuto; porque temos tempo disponível. Se no nosso íntimo uma dessas fosse afinal o fundamento do nosso Servir, então o melhor, o mais honesto seria arrumar as tralhas e ir para casa, pois a única resposta válida é a nossa necessidade de servir o outro, mendigar através do serviço ao outro o amor misericordioso de Deus. Pois o sermos mendigos do amor misericordioso de Deus, converte-nos.

E realmente quando servimos o outro neste espírito de mendicância, recebemos sempre mais do que damos.

Passo agora a citar alguns excertos desta belíssima Encíclica, onde tão bem nos é explicado o Amor Misericordioso de Deus.

… “Este processo autenticamente evangélico não consiste numa transformação espiritual realizada de uma vez para sempre; mas é um completo estilo de vida, uma característica essencial e contínua da vocação cristã. … O amor misericordioso, nas relações recíprocas entre os homens, nunca é um acto ou processo unilateral. Ainda nos casos em que tudo pareceria indicar que apenas uma parte oferece e dá, e a outra não faz mais nada do que aceitar e receber (por exemplo no caso do médico que cura, do mester que ensina, dos pais que sustentaram e educam os filhos, do benfeitor que socorre os necessitados), de facto, também aquele que dá é sempre beneficiado. De qualquer maneira também ele pode facilmente vir a encontrar-se na posição de quem recebe, de alguém que obtém um benefício, experimenta o amor misericordioso, ou se encontra em estado de ser objecto de misericórdia.

Neste sentido, Cristo crucificado é para nós o modelo, a inspiração e o incitamento mais nobre. Baseando-nos neste impressionante modelo, podemos, com toda a humildade, manifestar a misericórdia para com os outros, sabendo que Cristo a aceita como se tivesse sido praticada para com Ele próprio. Segundo este modelo, devemos também purificar continuamente todas as acções e intenções, em que a misericórdia é entendida e praticada de modo unilateral, como um bem feito apenas aos outros. Ela é realmente um acto de amor misericordioso só quando, ao praticá-la, estivermos profundamente convencidos de que ao mesmo tempo nós a estamos a receber, da parte daqueles que a recebem de nós. Se faltar esta bilateralidade e reciprocidade, as nossas acções não são ainda autênticos actos de misericórdia. Não se realizou ainda plenamente em nós a conversão, cujo caminho nos foi ensinado por Cristo com palavras e exemplos, até à Cruz, nem participamos ainda completamente da fonte magnífica do amor misericordioso que nos foi revelada por Ele.”

“…O «beber nas fontes do Salvador» só se pode realizar com o espírito de pobreza a que o Senhor nos chamou com as palavras e com o exemplo: «o que recebeste de graça, dai-o também de graça» …”.

Escrito por Cristina

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